As pessoas com necessidades especiais enfrentam inúmeras dificuldades em seus ambientes de estudo, trabalho e até mesmo lazer. Isto porque não conseguem se adaptar a muitas práticas do cotidiano, que envolvem a participação dos sentidos, habilidades e recursos que uma pessoa portadora de alguma deficiência muitas vezes não consegue desenvolver. No entanto, felizmente, empresas e pesquisadores buscam facilitar a inserção dessas pessoas dia a dia e, em geral, no convívio social. É uma maneira de reverter o quadro descrito acima, através da criação de produtos adaptados. A venda desses artigos começa a ganhar atenção dos lojistas.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, 25 milhões de brasileiros possuem algum tipo de deficiência, ou seja, o número corresponde a 14% da população do país — sendo que 40% representam o grupo de deficientes visuais (parcial ou total).Segundo Fundador da Direção e Sentido Coaching e Treinamentos e do Grupo BD Tecnologia, Arnaldo Auad, alguns cuidados devem ser tomados na hora que o lojista vai começar a investir em lojas para pessoas com necessidades especiais. “Um dos pontos mais importantes é garantir a acessibilidade ao estabelecimento pelo portador de necessidades especiais e garantir que qualquer pessoa, independente da limitação física”. “Se uma pessoa é cadeirante, deve haver no estabelecimento a possibilidade de alcançar os produtos que necessita sem ter que fazer um esforço excessivo ou fora de sua limitação”, orienta.
Na visão dele, é muito importante que o cliente de necessidades especiais tenha a mesma liberdade de qualquer outra pessoa. “Isso significa que o estabelecimento precisa prever que uma pessoa com necessidades especiais pode visitar e consumir o que precisa e deseja da forma que lhe convier. Sem empecilhos ou constrangimentos. Significa pensar desde o estacionamento até a disposição dos produtos, equipamentos internos e equipe treinada também é fundamental”, ressalta.
O treinamento é fundamental para as equipes de vendas. Atendimento cordial e atenção aos detalhes são requisitos básicos. “Acredito que uma equipe treinada em libras por exemplo, seria um diferencial para o estabelecimento. Para aqueles que possuem necessidades fí- sicas, oferecer ajuda da forma correta para alcançar um produto que esteja fora do alcance também são diferenciais. Quanto mais adequado for o ambiente, melhores ficam as condições para as pessoas com deficiência”, afirma, acrescentando que na gestão de relacionamento com clientes há uma máxima que diz que se você quer um negócio de sucesso torne fácil fazer negócios com você. “Simplifique o acesso, a mobilidade e o atendimento. Sem dúvidas isso gerara rendimentos. Todos querem pagar o justo por aquilo que consomem e isso é democrático e amplo”, diz Auad.
Exemplos:
A empresa Visio Equipamentos trabalha com a cadeira Lince, um equipamento para ser usado em casos emergenciais e que deveria ser disponibilizado em todos os prédios, seja comercial ou residencial, aeroportos, teatros, casas de shows e hospitais;para a descida de escadas com pessoas com mobilidades reduzidas (cadeirantes, grávidas,idosos e deficientes visuais) em situa- ções como incêndio, em que o elevador não funcione. O gerente comercial da empresa, Thomas Fiedler, conta que o produto é comercializado, habitualmente, com uma visita técnica de demonstração e avaliação anterior, para que se possa quantificar a necessidade e forma de disposição. “Como cada edifício possui uma escada, com padrão e condi- ções diferentes, é neste ambiente que o equipamento tem de ser testado”, explica ele.
Os diversos eventos que ocorreram nos últimos meses, como incêndios em prédios em São Paulo (Edifício Itália, Conselho Regional de Medicina, dentre outros) e outras cidades do Brasil, vêm alertando a população sobre as técnicas e equipamentos disponíveis para se remover alguém com problema de mobilidade. “Outros problemas mais comuns em prédios residenciais como a falta do elevador, seja pela inexistência ou problemas técnicos que não permitam o seu funcionamento, vem alertando a população sobre a necessidade dos nossos serviços. Apesar de tudo isso, há uma barreira cultural que é imaginar que nada disso possa ocorrer nos lugares em que o cidadão habita ou trabalha”, relata.
A dona da loja Vida Nova, no Shopping Citta América, na Barra da Tijuca, Monique Moreira conta que decidiu abrir a loja devido a um problema de saúde em 2008, quando fez transplante de medula óssea em decorrência de esclerose múltipla.Após procurar produtos que atendessem suas necessidades verificou a dificuldade de acesso e compra para várias modalidades de deficiência física e decidiu criar uma loja que atendesse a esse público. “Além de produtos que facilitam a locomoção, disponibilizamos também produtos para ortopedia em geral, tratamento terapeutico, fisioterapia e pilates”, afirma.
Na visão dela, na hora de montar a loja ela pensou primeiramente em oferecer um espaço acessível e que possuísse uma variedade de produtos que atendam clientes com este perfil. “Além disso, buscamos oferecer um atendimento diferenciado para maior bem-estar do cliente. Para que ele saia satisfeito com nosso atendimento, realizamos treinamento com a equipe e motivamos cada profissional”, revela.Ela diz que as pessoas com necessidades especiais precisam ser incluídas na rotina da sociedade. “Os ambientes públicos e privados precisam oferecer acessibilidade e condições para que qualquer cidadão transite sem dificuldades. Quanto mais adequado for o ambiente, melhores ficam as condições para o cleinte”, observa Monique, que por perceber a necessidade de atender a Região dos Lagos, até março de 2016 vai abrir uma filial em Cabo Frio. “Também vamos inaugurar em Rio das Ostras e Macaé. Nosso faturamento líquido na unidade do Shopping Citta América é de cerca de R$ 20 mil por mês”, completa.
A empresa de calçados infantis DOK possui modelos com fechamento em velcro que facilita a abertura para calce das crianças. Nesse caso ajuda também a vida de uma criança com deficiência física. “Buscamos o encantamento constante dos nossos consumidores, incluindo tanto as crianças, como os pais. Neste sentido, ao lançar produtos que possam ser calçados com facilidade e segurança pelas próprias crianças, inclusive aquelas com algum tipo de limitação ou necessidade especial, além da realização dos pequenos em si, proporcionamos enorme praticidade também aos pais. Isto é o diferencial que oferecemos com os fechamentos em velcro, elástico e mesmo zíper, aplicados aos produtos da DOK e denominados como Calce Fácil”, explica o gestor comercial Silton Freire que espera um final de ano positivos para as vendas.
(Fonte: NAIRA SALES – Jornal do Comércio – http://jornais.fivepress.com.br/jornaldocommercio/201510210017/PDF/21b08cor.pdf)